sexta-feira, 9 de março de 2012


O prato do dia
por Debora Thomas




“Um indivíduo que deixou de lutar contra a solidão, fez dela sua companhia. Através da construção de um não-espaço, ou de uma alegoria do espaço mental, do vazio onde tudo pode acontecer, essa figura/personagem engole tudo o que lhe é dado. Na contramão da alienação há outro processo também destrutivo gerado por essa nossa sociedade que derrama um carregamento de regras das quais temos que seguir para viver em comunhão. ‘Faça isso, faça aquilo, não faça isso, não faça aquilo!’ Um conjunto de regras que compõe o nosso prato do dia”.

O Prato do Dia pretende estabelecer um diálogo entre a cena e a fotografia. Durante as ações da atriz/performer são projetadas sobre seu corpo imagens que dialogam com a temática das regras e modos de comportamento social através de uma série de coisas que devem ser “engolidas” por nós. Ao mesmo tempo somos constantemente abordados por frases, mensagens e propagandas que nos dizem: “Mantenha a forma!”. Então, numa analogia do engolir regras e comportamentos, engordamos do ato de viver em sociedade e, ao mesmo tempo, somos metralhados por mensagens publicitárias que nos pedem uma boa forma física!

A figura/personagem de “O Prato do Dia” mantém uma panela amarrada ao seu corpo, só faz comer, comer e comer. Enquanto isso, ela sofre por conta dos modelos ideais do corpo, da pele, do cabelo, do peso... E, na tentativa fracassada de alcançar este modelo, podemos nos transformar em figuras patéticas que fazem de tudo para se tornarem igualmente magras.



Angústias que passamos desde a infância, principalmente nós mulheres, com padrões de beleza pré-estabelecidos socialmente, nos quais quem não está dentro do modelo ideal acaba entrando numa busca sem limites, prejudicando a própria saúde, em muitos casos perdendo a vida”.

Na cena são projetadas fotografias, não muito nítidas, numa repetição contínua de comidas que não podem ser completamente identificadas, mas contribuem para a construção do universo patético dessa figura humana posta em cena. Ela se banha em barro enquanto ingere uma espécie de geléia compulsivamente... até seu completo esgotamento. É grotesco, tragicômico, patético... a platéia ri e ao mesmo tempo se envergonha do riso, pois se identifica com a atitude compulsiva que se espelha em muitas das atitudes cotidianas. 


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