O prato do dia
por Debora
Thomas
“Um
indivíduo que deixou de lutar contra a solidão, fez dela sua companhia. Através
da construção de um não-espaço, ou de uma alegoria do espaço mental, do vazio
onde tudo pode acontecer, essa figura/personagem engole tudo o que lhe é dado.
Na contramão da alienação há outro processo também destrutivo gerado por essa
nossa sociedade que derrama um carregamento de regras das quais temos que
seguir para viver em comunhão. ‘Faça isso, faça aquilo, não faça isso, não faça
aquilo!’ Um conjunto de regras que compõe o nosso prato do dia”.

A
figura/personagem de “O Prato do Dia” mantém uma panela amarrada ao seu corpo,
só faz comer, comer e comer. Enquanto isso, ela sofre por conta dos modelos
ideais do corpo, da pele, do cabelo, do peso... E, na tentativa fracassada de
alcançar este modelo, podemos nos transformar em figuras patéticas que fazem de
tudo para se tornarem igualmente magras.
“Angústias
que passamos desde a infância, principalmente nós mulheres, com padrões de
beleza pré-estabelecidos socialmente, nos quais quem não está dentro do modelo
ideal acaba entrando numa busca sem limites, prejudicando a própria saúde, em
muitos casos perdendo a vida”.
Na cena
são projetadas fotografias, não muito nítidas, numa repetição contínua de
comidas que não podem ser completamente identificadas, mas contribuem para a
construção do universo patético dessa figura humana posta em cena. Ela se banha
em barro enquanto ingere uma espécie de geléia compulsivamente... até seu
completo esgotamento. É grotesco, tragicômico, patético... a platéia ri e ao
mesmo tempo se envergonha do riso, pois se identifica com a atitude compulsiva
que se espelha em muitas das atitudes cotidianas.
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